quarta-feira, 2 de julho de 2014

a mãe anti-birra

Gosto de ir ao parque infantil com o M.
Gosto de o ver explorar o espaço. Gosto de o ver a brincar com as outras crianças, a forma como inventam as brincadeiras, o "faz de conta que aqui é o restaurante e eu sou o sr. das pizzas", a partilha ou a luta pelo escorrega ou pelo baloiço. Gosto de o ver cá de fora, gosto de ver os miúdos todos a brincar, sendo eu uma privilegiada ao estar a presenciar aqueles momentos secretos do seu mundo de entusiasmo e descobertas.


O cenário é este, o puto está a brincar com os seus amigos, eu sentada num banco simplesmente a olhar para eles e a sorrir por dentro completamente deliciada. estes momentos são perturbados por mães que vêm meter conversa comigo. Conversa de chaha. "Ah e tal o meu agora está terrível"..."Ah e tal comigo é sempre assim, faço isto assim, faço aquilo assado" - como se eu me interessasse por aquele assunto, face a um espectáculo de desenvolvimento infantil que se está a passar mesmo à minha frente e que estou literalmente a perder porque devo ser educada e ao menos, ao menos, ouvir o que estas senhoras têm para me dizer.
Já não falo em responder, porque nem saberia o que responder. Fico-me pelo "pois é".
Uma tarde destas, estava eu absorta nos meus pensamentos enquanto via o meu filho brincar no escorrega com um amigo mais novo, com mais ou menos 3 anos. Eles andavam ali a brincar e a mãe do menino acha por bem que está na hora de ir para casa, então começa a desfiar desculpas para o levar para casa: está na hora de ir embora, temos que ir tomar banho, está na hora de jantar. Resultado: o filho não lhe liga nenhuma, ignora a mãe e aquilo que ela lhe disse.
A mãe insiste: "O parque agora vai fechar", "os meninos vão-se todos embora", "vai ficar de noite", o puto responde: "ó mãe tira fotografias", que é como quem diz, entretém-te como quiseres porque eu agora não estou para isso, e quem manda aqui sou eu, tu não estás em situação de exigir nada.
Enfim passando assim a história 30 minutos para a frente, a mãe continuou a mendigar atrás dele por TODO O PARQUE para que se fossem embora.
Depois de tanto tempo eu não me aguentei e disse-lhe: "Ana porque é que não pegas nele e vais-te embora?", ao que ela respondeu já muito desanimada: "Porque ele depois faz uma birra..." Só lhe perguntei: "e depois?"
A partir daqui continuei a olhar para esta mãe atrás do seu filho, já em passo de corrida, porque ele já devia estar a brincar às perseguições, enquanto o tempo passava e ela não o conseguia levar para casa, porque simplesmente não o queria contrariar.
Deixei de assistir crianças a brincarem com crianças e passei a assistir a uma adulta a fazer um grande esforço para passar por adulta perante o próprio filho. Um grande esforço, mas feito de uma forma já muito distorcida. O João ainda só tem 3 anos.

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