quinta-feira, 3 de julho de 2014

um contra o outro


Há algum tempo que tenho vindo a assistir a um fenómeno entre alguns casais da minha geração, ou ligeiramente mais velhos. Faz-me pensar, faz-me temer que um dia posso ser eu e o meu marido a estar nesse lugar, sim porque ao que parece ninguém está livre. Haverá alguma vacina? O que é que se faz para prevenir esta doença? Será uma doença? É que às vezes (ou quase sempre) há males que vêm por bem.


Aquilo que eu constato através da minha observação naturalista e totalmente livre de preconceitos e julgamentos pessoais (??!!), é que os casais, têm um filho, dois filhos e depois separam-se. É isto.
Será preciso constituir família para depois perceber que "afinal ela/ele não era aquela pessoa"? Uma relação satura-se à medida que se tem filhos? O segundo filho demarca o limite, a partir daí o casal deixa de ter um propósito para existir? Já não sabem estar juntos sozinhos, porque talvez a única coisa que os torna um casal talvez seja mesmo só os filhos. Talvez se tenham esquecido de tudo aquilo que os levou a apaixonar-se, a enamorar-se a admirar-se mutuamente. 
Olham um para o outro e não reconhecem as qualidades que um dia viram, e de um momento para o outro (ou não) ficam um contra o outro quando estão sozinhos. Porque estarem sozinhos é incómodo, torna-se constrangedor. Assim, todos os dias a par do trabalho que nos consome, temos cada vez mais actividades com os nossos filhos, fazemos por ter mais actividades sozinhos (porque precisamos delas para nos encontrar-mos desperadamente) e fazemos menos coisas com a pessoa que um dia nos fascinou. Isso afasta-nos e afasta-a, embora que o façamos sem essa consciência.Vamos de férias em grupo com os casais amigos (casais amigos é uma expressão nojenta não é?), porque é mais divertido, lá está. Então arranja-se desculpas para justificar "as férias". Os miúdos podem brincar com os amigos, as mulheres podem continuar a falar daquilo que falam sempre umas com as outras. Os homens continuam com os seus assuntos. As piadas das férias acontecem com os amigos, a cumplicidade das férias dá-se entre "amigos". Falta o tempo para reflectir, para olhar um para o outro, para fazer um balanço da vida, do último ano que passou, do caminho que se fez, daquilo que se conseguiu alcançar, de todo o trajecto que tem sido feito desde que se trocou aquele primeiro olhar, e o tanto que se conseguiu enquanto casal. Não há espaço para fazer novos planos, novos projectos, novos objectivos. Pouco a pouco o intimo torna-se estranho, o desejável torna-se longínquo.
Quando acham que já não há nada a fazer e inconscientemente ignoram todos os pormenores que levaram "à decomposição" do relacionamento, dizem-me coisas como: "Sabes, quando se trata de sentimento não há nada a fazer..."ou melhor "sabes no amor ou se gosta ou não se gosta...".Eu respondo "Pois...", omitindo tudo aquilo que me passa pela cabeça em nano segundos. Custa-me ver o avesso das pessoas, quando elas não se vêm a si próprias. Parece-me que o desinvestimento que é feito no outro e no casal resulta numa catadupa de decepções e de ilusões acerca do outro que não foram preenchidas, mas também não foram comunicadas com o outro, porque é preciso fazer tempo, fazer espaço no casal para falar acerca disto, antes que seja tarde demais.
Perante isto a saída mais viável, parece o "ficarmos amigos, mais vale agora do que depois", e assim se desiste à primeira, à segunda e à terceira, e às vezes também sem nunca ter tentado a sério perpetuar a família que um dia foi sonhada, quando iam de férias sozinhos, quando namoravam no banco de trás  do carro, quando iam jantar a casa dos pais enquanto namorados, nervosos para que fossem aceites, quando procuraram juntos a primeira casa, quando casaram, quando decidiram ser mais um, quando decidiram ser mais dois.

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