quinta-feira, 9 de outubro de 2014

como os nossos pais

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Conheço muita gente da minha idade, que diz: "Eu sou do tempo...".
Porque nós somos os filhos do tempo, em que brincávamos muito na rua, que ao domingo só íamos para casa às sete da tarde, à hora  que começava o "MacGyver". Que brincávamos a gravar programas de rádio (eu), que achávamos que os "Jogos Sem Fronteiras", eram um serão bem passado, mesmo que a equipa de Portugal perdesse sempre, já sabíamos que era assim e ninguém estranhava, (não sei porque estranham agora) o que interessava era participar. Fazíamos concursos de balões de pastilhas elásticas SuperGorila, etc e tal, vocês sabem, porque tínhamos que nos entreter com alguma coisa e de facto, contentávamos-nos com muito pouco. Porque tínhamos mais amigos na rua do que coisas. Tínhamos mais relações de amizade do que brinquedos. Havia desgostos, mas também havia uma altura para fazer as pazes e sentir que fazíamos um jogo do "Mata" ou da "Cirumba" (escreve-se assim?) e voltava tudo ao que era antes.

Mas nada do que eu disse até agora é novidade, até porque isto é um tema largamente debatido (tanta é a nossa nostalgia) e já deu em apresentações de PowerPoint que reencaminhávamos de uns para os outros e melhor ainda, um programa de rádio, a célebre Caderneta de cromos do Nuno Markl.

Quando dizemos "No nosso tempo é que era", em primeiro lugar significa que já não somos tão novos, olhamos para trás e já passaram 20 anos desde o tempo em que víamos a "Febre de Beverly Hills (ou em inglês, Beverly Hills 90210 alguém se lembra? eu lembro-me do nome Brandon, mas já não sei quem era,  porque Brandon ficou agora gravado na minha memória de outra forma, porque é o nome do vestido de noiva da minha amiga I da marca SanPatrick que nos levou a Oeiras e tentar subornar, convencer a senhora da loja a vendê-lo a quem de direito - longa história). Em segundo lugar significa que, agora já falamos como falavam os nossos pais. E é na parentalidade que está o busílis da questão, é disso que eu quero falar. Ser pais nos anos 80 (os nossos pais) e ser pais no ano dois mil e tal (nós).


Os nossos pais mostravam-nos quando nós estávamos a pisar o risco, havia um claro aviso no ar que não só nós sabíamos ler, como sabíamos interpretar. Eles gritavam no meio da esplanada? Claro que não. Eles diziam "É a quarta vez que te aviso!" no meio do supermercado. Óbvio que não. Eles batiam? Jamais, não se iam rebaixar a esse ponto porque isso ia retirar-lhes toda a segurança e provar que "estavam passados da cabeça com os nossos comportamentos" e a isso eles não cediam. Eles não precisavam. Mas porquê? Há-de perguntar muita gente, que agora inscreve-se em trezentos workshops de parentalidade positiva e o diabo a quatro.

Daquilo que vejo, daquilo que estudei, da experiência com os meus filhos, com os filhos dos outros e com os pais dos filhos dos outros, quer-me parecer que isto de ser pai está longe de se aprender nos livros. Podemos sempre aprender a ser melhores pais, aprender algumas técnicas, temos um longo caminho sempre pela frente, mas o básico, além de ser inato, parte também de imitar os bons exemplos da nossa vida e ter o bom senso para não copiar os maus exemplos e quem não tem esta consciência de que não está a fazer as coisas lá muito bem, não tem bom senso, logo deve em primeiro lugar perceber dentro de si o que não está a funcionar. Aqui a boa notícia é que todos temos traumas, todos em algum momento da vida ficámos angustiados e temos coisas mal resolvidas. É a vida. Não venham com desculpas. Não há paciência para isso.

Retomando a pedagogia fofinha dos nossos pais, eles não precisaram de aprender como dar ordens de forma positiva, ou de aprender a nos motivar, muito menos, precisavam de gritar, nem de ameaçar, nem de contar até três, mas porquê?...(pergunta para queijinho)...
Porque tinham autoridade. Porque eram seguros de si mesmos e do que faziam, porque cumpriam sempre aquilo que diziam e por isso mesmo, com  um "simples" olhar eram respeitados. A comunicação sem palavras funcionava perfeitamente, sabíamos o que era um cartão amarelo e o que eram dois cartões amarelos. Sabíamos que haviam consequências, porque eles falavam muito a sério e logo eram levados a sério. Notem que não estou a falar de sanções físicas, mas quem sabe da retirada de alguns privilégios, isso sim.

Reparem ainda, que eu estou-me bem nas tintas para as birras dos miúdos, para as fitas, para o seu comportamento desafiante, porque para mim acho isso tudo absolutamente normal e saudável. Ai da criança que não parte um prato, que não faz uma birra. A mim, o que me dá muita pena é os pais queixarem-se dos filhos, "Ai que não dou conta de ti, Ai que me fazes a cabeça em água, Ai que agora vou dizer ao teu pai!! Ai que agora vais para casa da tua avó(porque eu já não não te aguento e estou fartinha disto tudo)." Todas estas frases só fazem os filhos sentirem que têm o poder quando se portam mal e serem donos e senhores das situações enquanto os pais se ficam a lamentar. Por favor façam um favor a vós próprios e cresçam e apareçam para o mundo e para a vida (parece um slogan). 

É normal os miúdos portarem-se mal, os pais também se portaram. Ou já não se lembram? 
O que não é normal, é os pais: 1) Queixarem-se disso; 2)  Fazerem-lhe as vontades todas para não os ouvirem fazer fita; e a pior de todas 3) Elogiarem o mau comportamento dos filhos.

Assim sendo, as queixinhas dos pais são uma perca de tempo, temos muita pena, porque os filhos dão muito trabalho, o estabelecimento de uma relação (precoce porque os nove meses na barriga da mãe contam assim a modos que muiiiiiitoooo), mostrar-lhes o amor, "regar" a formação de uma personalidade, educá-los. Aguentem-se. Não são Nenucos nem comem sopa passada a vida toda. E se comerem a partir de determinada altura, e não lhe tirarem as fraldas também, aguentem-se porque a culpa responsabilidade é vossa.

No que respeita a fazer as vontades aos filhos, é um pesadelo que não tem fim. Vão estar a alimentar e a criar um monstro, porque eles vão querer sempre mais e mais, e nada lhes irá encher completamente o olho, nem que se endividem até à medula para lhes comprar um DB9, porque só assim irão sentir que são bons pais: a dar coisas. Se ainda quiserem ir a tempo de alguma coisa, parem de lhes perguntar: "Queres jantar o quê filho?" e comecem a perguntar "Queres frango assado ou esparguete com almôndegas?" Dêem-lhe duas opções. Não dêem o mundo inteiro para escolher, caso contrário ou ficam sempre indecisos ou pedem sempre aquilo que vocês não lhes podem dar.

Em relação à infracção mais grave: Gabar o mau comportamento dos filhos (é a minha preferida, admito), vou passar logo aos exemplos (pérolas que ouço tão caladinha na fila de supermercado, no centro de saúde, no parque infantil) para se ficar logo com uma clara ideia daquilo que eu estou a dizer:
Mãe 1: Ah e tal o meu filho está terrível!!! (aqui nota-se um certo brio quando se pronuncia terrííííívelll, que é como quem diz espectacular)
Amiga 1: Ah o meu é que tá!! (é uma coisa boa ser terrível, logo a outra não pode ter um filho mais terrível que o meu).
Começam a falar e vai-se a ver e o miúdo tem 7 anos e ainda dorme na cama dos pais (é o príncipe ele é que põe e dispõe).

Mãe 2: Ah e tal a minha filha tem sempre que andar com as suas 5 chuchas, ela é assim decidida!!
Amiga 2: Ah pois!! Vê-se logo que a tua filha tem uma personalidade muito forte!
Continuam a falar e descobre-se outros tantos hábitos que a mãe faz questão de não contrariar, pela sua óbvia incapacidade de frustrar a filha. 

Mãe 3: Ah e tal no outro dia tive que comprar 3 gelados diferentes ao meu filho porque ele nem gostou, nem comeu nenhum, é muito selectivo sabes?
Amiga 3: Ah não a minha é que é, com a minha nem vamos a lado nenhum porque ela só gosta de se vestir de verde e caminhar nas pedras pretas do passeio ...(não penses que o teu filho é melhor (pior???) que a minha sua cabra porque eu ganho-te aos pontos).

Quando estes elogios ao mau comportamento, ou seja o que for, são feitos em frente aos filhos, todos eles se insuflam, ficam cheios de orgulho, eu sou assim, sou o melhor, "se a minha mãe fala assim é porque isto funciona mesmo". Nem percebem que os pais, não só, não os estão a corrigir por comportamentos não desejados (ou será que são desejados?) como também, fazem questão de falar disso como fosse um grande feito e motivo para pavonear esses mesmos comportamentos, como se fosse um concurso  numa feira de vaidades. 
Sinceramente minhas senhoras, se são essas as expectativas que têm acerca dos vossos filhos estavam à espera de quê??? 
Que eles fossem geniais? 
Como? Se as próprias mães são as primeiras a dizer que eles são terríveis?
Agora aguentem-se.

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