terça-feira, 4 de novembro de 2014

somos pais sozinhos?!

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Ao tentar  traçar um perfil dos pais que acompanho, no que respeita à pedagogia, deparo-me muitas vezes, assim de forma geral, com dois tipos de pais, aqueles que querem incutir 658 regras aos filhos e aqueles nem sabem o que são regras e quem manda lá em casa obviamente que são os filhos. Os primeiros querem incutir tudo e mais alguma coisa na educação dos filhos, os segundos acham que as crianças se educam sozinhas. Mas todos, e cada um à sua maneira, tentam dar o seu melhor e fazem o mais que podem e sabem pelos seus filhos.
Diz-se que para educar uma criança é preciso uma aldeia, mas cada vez mais crescemos com a convicção de que nós é que sabemos como educar os nossos filhos, porque desejamos que tenham as tais regras, sejam educados, sempre limpos e impecáveis, cumprimentem as pessoas, digam se faz favor, desculpe e obrigado. Pensámos e idealizámos esta educação durante muito tempo, criámos grandes expectativas e agora é a altura de pôr a "nossa mestria" de educadores à prova: "Comigo nem pensar que vão fazer isso...há que estabelecer regras e limites..." bá blá blá. Somos muito convictos da nossa educação, aquela que julgamos ser a melhor porque é a nossa. Se por acaso há algum familiar que nos vê assim mais aflitos com a imposição nas nossas regras pode dizer assim qualquer coisa como: "Eu criei dois sozinha e comigo não havia essas cenas..." obviamente que nos sentimos colocados em causa e por consequência uns completos incompetentes em matéria de educar crianças. Sentimo-nos sozinhos. Porque somos nós a tentar educar os nossos filhos mas sempre com critica a espreitar por cima do ombro. Os pais precisam de ouvir: "Olha eu sei como te estás a sentir porque já passei por isso", não precisam ser acusados, porque isso não motiva ninguém a melhorar nem faz ninguém mais feliz, pais ou filhos. Acreditem que já nos chega a critica do nosso já muito insultuoso subconsciente.
Os pais precisam ainda, saber que não estão sozinhos nas dificuldades que sentem, precisam saber que essas dificuldades são normais e que às vezes não vale mesmo a pena tentar impor 10 regras  porque se os miúdos cumprirem 5 já é um sucesso. Porquê? Porque são crianças. Lembrem-se que já foram crianças. Lembrem-se que já foram "terríveis" e pensem nisso antes de começar a gritar com a vossa filha porque ela cortou o tecidos das cortinas da sala para fazer um vestido para a boneca (eu fiz isto quando era pequena, pareceu-me bem introduzir este exemplo agora).
A recompensa que os pais recebem é diária, é gigante mas não pode ser medida em bolinhas verdes, amarelas ou vermelhas no quadro do comportamento, mas vale pelas nódoas que os nossos filhos trazem da escola porque comeram sozinhos, vale pelas conversas que temos com eles no caminho escola-casa em que percebemos que eles cresceram quando nos explicam como aparece o arco-íris, quando nos dizem o quanto gostam de nós e o quanto nos admiram.
Os pais também precisam de aprender a jogar os corações ao alto e perceber que nem sempre têm que ser perfeitos, ou conseguir que os seus filhos estejam uma hora sentados numa mesa a deliciar-se com uma saborosa refeição como se fossem adultos, como eles não o são, aceitem isso, são crianças. Muitas vezes, encontramos mais apoio nos nossos amigos, que partilham connosco as suas fragilidades e com as quais nos identificamos, do que no dedo esticado da nossa mãe e/ou da nossa sogra a apontar as três coisas que fazemos mal, sem valorizar as outras duas que fazemos bem.
Assim, almocemos durante duas horas à mesa com os nossos amigos, enquanto (felizmente) interrompemos a refeição para trocar fraldas a uns, esconder as espadas a outros, assoar o nariz aos terceiros, e ainda ter tempo para ameaçar "se fizeres isso para a próxima já não vens", voltar à mesa  e ver que a comida já está fria, mas ter coragem para pegar  no copo de vinho e perguntar: "Estão a dizer mal de quem agora?"
Dificilmente conseguiremos ser pais sozinhos, pois precisamos de exemplos ao mesmo tempo que precisamos de um ombro para chorar, precisamos de nos aproximar de boas pessoas e de nos afastar das pessoas tóxicas (mesmo as da nossa família). Não podemos fazer cumprir tantas regras como gostaríamos aos nossos filhos, mas podemos permitir-nos a simplesmente agradecer por tudo aquilo que eles nos dão sem pedir nada em troca. Muito facilmente vamos chegar à conclusão de que  estes anos de luta foram os melhores da nossa vida. Com ou sem regras.

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