terça-feira, 17 de março de 2015

eu também quero tudo


Eu quero tudo
"Um dia eu estava muito optimista e assegurei à minha psicóloga que quero tudo da vida e que não acredito quando dizem que não é possível.
Quero trabalhar no que gosto. Sentir-me necessária, reconhecida, subir na carreira.
Quero cozinhar. Ter tempo para preparar um almoço saudável para levar no dia seguinte, para fazer panquecas para a minha família, para cortar morangos para a sobremesa.
Quero ser bonita. Quero ir ao dermatologista, ter tempo para ir ao cabeleireiro, arranjar os pés fazer uma massagem.
Quero ter um bom casamento. Quero sentir-me apaixonada pelo meu marido, quero sentir-me muito amada por ele, mesmo depois de tantos anos, quero que lhe apeteça dançar comigo à chuva, quero rir-me com ele, quero o meu coração a bater.


Quero divertir-me. Deitar-me na relva de um jardim, lanchar com uma amiga, fazer o que me passar pela cabeça, andar numa bicicleta de três lugares, andar de balão, aprender a andar de patins em linha, ir à procura de um CD de que ouvi falar, ir a correr tocá-lo para dançar, quero comprar flores e pô-las numa jarra, quero beber vinho branco enquanto preparo  o jantar, quero ir apanhar amoras ao campo, ver coelhinhos a fugir, fazer xixi na mata, quero levar um rádio de musica e pôr o som alto na praia, ir à praia no inverno, ir às rochas apanhar caranguejos, fazer cem quilómetros para comer uma boa alheira, fazer piqueniques em Monsanto, ter um porquinho bebé, comprar um porquinho cor-de-laranja e trazê-lo para casa, fazer uma festa de anos ao pequeno-almoço, acordar às 6 horas da manhã e por a cabeça fora da janela para sentir o cheiro, fazer um lanche de Acção de Graças todos os anos, quero convencer os amigos a ir beber uma cerveja depois do trabalho, ligar a uma amiga para dizer que adorei estar com ela, ligar uma segunda vez para lhe dizer que a acho inteligente. Um dia, quero cantar num bar e fazer muito sucesso.
Quero ter uma casa à minha medida. Quero pintar a parede da cozinha de cor-de-rosa, ter um baloiço na sala, quero ter um espelho no tecto do quarto, passar o sábado na cama.
Quero que os meus filhos acreditarem que é possível. Quero ir com eles de fato de banho para a banheira a fingir que é uma piscina, deixar que me lavem a cabeça, ficar nos baloiços até ser noite e jantar lá, ensiná-los a fazer o pino, fazer rir os seus amigos.
Ainda quero ser amiga dos vizinhos, fazer-lhes uma tarte, como na América.
Quero ser feliz em todas as partes da minha vida. Tudo ao mesmo tempo. Estou-me nas tintas para a conversa do «não se pode ter tudo ao mesmo tempo», do « ter de escolher», e não quero saber das tretas de que «o tempo não dá para tudo»".

À falta de melhor forma de dizer que quero tudo, transcrevo  um excerto do livro "Não há famílias perfeitas" de Marta Gautier. Um livro que mostra mulheres, mães, pais e famílias pelo avesso, na sua feliz imperfeição. Um livro para aprender a relativizar as pequenas e as grandes coisas, para a aprender a pedir mais ou menos da vida, daquilo que já somos e também do que gostaríamos de ser.

1 comentário:

  1. Pode ser uma visão optimista, mas aquilo que vejo são muitas mulheres sufocadas pela ideia social que é passada de que é possível conciliar tudo. Para mim não é, tudo implica ganhos e perdas e isso pode significar sermos imensamente felizes. Sem exigências desmedidas, sem resignações ou impotências.

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