quinta-feira, 20 de agosto de 2015

se conseguires imaginar, podes fazer acontecer



[... E agora, havia que passar ao acto.
Olhou para o computador, um bonito portátil branco que a esperava de boca aberta na mesa da cozinha repleta de livros, de facturas, de canetas de feltro, de Bics, de folhas de papel, de migalhas do pequeno-almoço: o seu olhar aflorou o círculo amarelo deixado pelo bule, a tampa do frasco de doce de alperce, um guardanapo enrolado como uma cobra branca ...Teria de arranjar um espaço para escrever(...) 

Precisava de tantas coisas, tantas coisas, suspirou repentinamente fatigada com a ideia do esforço a despender. Como decidir o assunto de um livro? Como criar as personagens? Uma história? Repercussões? Provêm dos acontecimentos externos ou da evolução das personagens? Como começar um capitulo? Como ordená-lo? Seria necessário pesquisar os seus trabalhos e as investigações (...) Por onde começar? repetia Josephine ao observar a intensidade da luz desse mês de Janeiro a decair suavemente na cozinha, a iluminar com uma luz pálida o rebordo do lava-louça e a morrer no escorredor. Haverá um livro com receitas para escrever? quinhentos gramas de amor, trezentos e cinquenta gramas de intrigas, trezentos gramas de aventuras, seiscentos gramas de referências históricas, um quilo de suor...deixar cozer em lume brando, ou no forno aquecido, mexer bem, saltear para que não se pegue, evitar os grumos, deixar repousar três meses, seis meses, um ano. (...) E eu ? A toalha de oleado da mesa da cozinha, o frente-a-frente com o lava-louça, o bule do chá, o tique-taque do relógio, as migalhas do pequeno-almoço e as prestações a pagar. (...) 
Se coloco os dedos no teclado vai cortar-mos. (...) Soltou um risinho nervoso e sentiu um arrepio...]

Os olhos amarelos dos crocodilos
Katherine Pancol 

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