terça-feira, 20 de maio de 2014

great expectations


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Não chega trabalhar, muito menos ter um emprego. Trabalhar dentro da área para a qual nos formarmos. Não chega ir trabalhar das nove às cinco. É preciso que esse trabalho, nos preencha, nos realize, nos motive, não nos desmoralize.
Não chega casar. É preciso que seja com a "pessoa certa". É preciso fazer com que funcione, é preciso amar, adorar, venerar, respeitar essa pessoa. Aprender a ceder, a motivar, a resistir, a frustrar. É preciso que seja amor.
Não chega engravidar. É preciso ser-se uma grávida bonita! Roupa gira, calças skinny, saltos altos. Barriga só se nota de preferência lá para os seis meses (mas só ligeiramente). É preciso ter 9 meses de disposição para as conversas das transeuntes que já foram mães e se consideram o prémio Nobel da maternidade.
Não chega parir. É preciso parir em bom. Sem dores, sem esforço, uma maravilha. Se fores mulher a sério, deve ser sem epidural. Sempre com uma grande sorriso. Corre tudo bem. dorme bem, mama bem. Não há margem para dúvidas: tudo deve ser perfeito.
Não chega ir para casa. Só por si não é consolo suficiente. É preciso ter tudo preparado, o quarto do bebé, a sala acolhedora, cafés, bolinhos. Saber receber as visitas que trazem palpites presentes, que querem ver o bebé a mamar, o bebé a tomar banho, o bebé a arrotar.
Nada chega, é sempre preciso mais. O tempo passa, temos tudo o que queremos, mas enquanto fazemos planos, perdemos tempo e energia a desejar o que já temos, mas não vemos.

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