quarta-feira, 27 de agosto de 2014

banda sonora como nos filmes


Dizem que quando vemos os nossos filhos pela primeira vez, ficamos apaixonadas.
Dizem que é um momento indescritível, de ir às lágrimas, de uma emoção que não se contém.


Quando nasceu o meu primeiro filho, não tive tempo para me dar a "esses luxos". Percebi imediatamente que algo não estava bem, sensação essa que foi confirmada com um índice de Apgar 5 ao primeiro minuto, mas felizmente tudo correu pelo melhor e o miúdo lá sacou um nove ao quinto minuto e um 10 com distinção ao décimo minuto.
Quando me trouxeram o Miguel para os meus braços já na enfermaria, olhei bem para ele e não era exactamente o bebé que eu tinha imaginado (dualidade bebé imaginário/bebé real) - estava todo inchado, os olhos esbugalhados e o cabelo em pé. Não era o bebé que eu tinha sonhado durante nove meses. Bem, mas esta conversa de ajustamento mãe/bebé pode ficar para outro dia porque "dá pano para mangas".
O que eu queria dizer é que passado esse momento de choque (sim é verdade admitam que também ficaram chocadas), nós entrámos os dois ali num momento de silêncio e reconhecimento mutuo. Foi nesse momento que eu comecei a ouvir na minha cabeça o Miguel Ângelo dos Delfins a cantar "nasce selvagem". Nesse momento percebi que tinha perdido o chão para sempre e o controlo de tudo na minha vida, pois tinha nos meus braços algo que era meu mas não me pertencia, porque "tu pertences a ti, não és de ninguém...vive selvagem e para ti serás alguém nesta viagem". A propósito desta escolha musical, o meu marido só disse: "Delfins?????". Eu expliquei-lhe que não foi uma escolha, que foi um acontecimento muito estranho assim quase a roçar a alucinação psicosensorial. Percebe-se agora porque é que eu não tenho conversa para as outras mães que estão no parque infantil? Uma diz: "Ah e tal eu fiquei logo apaixonada!!", outra diz "Eu cá fartei-me de chorar estava tão feliz, foi tão emocionante" e depois vou eu e digo: "Eu ouvi o nasce selvagem dos Delfins". - WTF !!!???
Há dez dias atrás, quando nasceu o Mateus, não foi diferente. O parto, correu melhor, o Manel ainda não estava completamente neste mundo e já estava a chorar, quando o senti em cima de mim dei uma gargalhada (de felicidade/alivio/alegria), o pai cortou o cordão umbilical (como aparece nos filmes) e depois quando o trouxeram já limpinho e enroladinho eu perguntei logo pelo Apgar no 1º minuto. Quando a enfermeira me disse: "9 ao primeiro minuto!!" eu respirei de alivio.
Já no quarto, naquele momento só nosso, irrepetivel no tempo pela magia que carrega de primeira vez, dei por mim a ouvir a "balada astral" dos Azeitonas. Para mim, esta canção, fala da inevitabilidade de conhecermos aquela pessoa e da forma como a vida se encarrega sozinha de colocar as pessoas certas no nosso caminho, simplesmente porque tinha que ser assim e não de outra maneira - "(...) dos astros a conspirar".
Quando olhei para o meu filho pequenino, (re)conheci-o e percebi o porquê: "Mandaram teu pai, sorrir para a tua mãe, para que tu existisses também...".
Agora tudo faz sentido.

5 comentários:

  1. Muito bonito, superas o expectável!
    Não te conseguiria acompanhar numa conversa de parque infantil!

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    1. Obrigada :) Mas tu és tão suspeita !
      Tu acompanhas-me sempre.

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  2. Fabuloso!... mesmo!

    PS: Creio que também serei da claque das que não terão conversa para as outras mães :P

    http://hortelaatrasdaorelha.blogspot.pt/

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  3. Bem vinda ao clube das mães sem paciência :p

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