a lista e as pedras preciosas

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Em Comprometida, a sequela de Comer, Orar e Amar, Elizabeth Gilbert, a autora e protagonista, conta-nos, ou pelo menos tenta, o que é ser e estar casada, qual o significado do casamento, através de uma pesquisa bibliográfica, mas também se baseia nas histórias de vida dos seus amigos, familiares, na sua própria história, na história do marido, sim eles acabam por casar, a muito custo e com muitos receios (gato escaldado...) mas casam.

No decorrer deste último livro autobiográfico a autora, numa procura (acho eu) de motivos para casar e desta vez para que dê certo, faz uma lista de cinco dos seus piores defeitos, na esperança de dar o passo (certo) nesta nova relação com uma maior consciência. 

Ela faz a lista dos seus cinco maiores defeitos, lê-a a em voz alta ao até então namorado, e pergunta-lhe se ele poderá viver com uma pessoa que, passo a citar o único defeito da sua lista, no qual me revejo e reconheço: "Prezo  muito a minha opinião. De uma forma geral, penso ser eu quem melhor sabe, como é que toda a gente devia viver a sua vida - e tu, mais que qualquer pessoa, serás vítima disto". Pessoalmente, devo dizer, em minha defesa que este defeito deve-se sobretudo à minha profissão. São ossos do ofício. Não sou eu.  

Onde é que eu ia? Sim, a lista dos defeitos lida em voz alta. Seria interessante, se cada mulher pessoa tivesse a capacidade para fazer o mesmo. Ou então não.

Assim, o namorado dela, depois de a ouvir atentamente, começa a contar uma história sobre pedras preciosas (gosto muito de pessoas que quando lhe perguntamos alguma coisa começam a contar uma história, na minha família é assim, para o bem e para o mal. Já tinha dado para reparar?).

Ele diz-lhe que quando começou o seu negócio de pedras preciosas, costumava comprar "lotes" de pedras preciosas. "Um lote é uma colecção aleatória de pedras preciosas que o mineiro ou o retalhista, ou quer quer que nos esteja a enganar, reúne." E segundo ele, num lote vinham algumas águas marinhas (pedras) muito boas, mas a maioria eram pedras de má qualidade, das quais os vendedores se queriam livrar e por isso misturavam com as outras. Quando ele começou a trabalhar nesse negócio, valorizava muito às únicas duas ou três pedras perfeitas que vinham no lote, e não dava muita atenção às outras todas de má qualidade que as acompanhavam. Após ter alguma experiência, percebeu que deveria ignorar as pedras preciosas perfeitas "porque o cegavam" e dar bastante atenção às outras, percebendo de que forma as poderia trabalhar, o que faria com elas.

Finalmente, ele conclui o seu raciocínio e diz que "(...) acontece o mesmo com as relações. As pessoas apaixonam-se sempre pelos aspectos mais perfeitos do outro. Quem não o faria? Qualquer pessoa é capaz de amar as partes mais maravilhosas de outra pessoa. Mas não é a atitude mais inteligente. A atitude mais inteligente é esta: conseguiremos aceitar as imperfeições? Conseguiremos olhar sinceramente para os defeitos da pessoa amada e dizer: "Consigo dar a volta a isto. Consigo fazer qualquer coisa com isto" Porque as coisas boas vão estar sempre ali e vão ser sempre lindas e cintilantes, mas a porcaria que está por baixo pode dar cabo de nós." 

Então ela perguntou-lhe, se estava a querer dizer que ele era suficientemente inteligente para dar a volta às partes do seu ser que eram desprezíveis e imprestáveis, ao que ele respondeu: "O que estou a tentar dizer, querida, é que já te ando a observar cuidadosamente há algum tempo e acho que posso aceitar o lote todo".

Se teve paciência suficiente para ler tudo até ao fim, agora faça uma lista dos seus cinco maiores defeitos e leia em voz alta para si, não vamos exagerar e ler para o outro, ninguém quer agora de repente despoletar uma crise. Não exageremos, a ideia é boa mas não pode ser levada ao limite. Ou melhor, precisamos de treino para atingir esse nível de desenvolvimento, exige muito mais de nós. 

Talvez se tivermos uma maior consciência dos nossos próprios defeitos, das nossas fraquezas e debilidades, seja mais fácil aceitar "o lote" do outro.