segunda-feira, 4 de agosto de 2014

filhos de 2014

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Hoje, às 39 semanas de gravidez do baby M, encontrei um artigo na Revista Pais e Filhos de Janeiro deste ano (estou mesmo em cima do acontecimento...) intitulado "Ter um filho em 2014 é um acto de coragem e rebelião", escrito pela Psicoterapeuta Catarina Rodrigues. 
Nas vésperas de ter o meu segundo filho, não considero que tenha "melhores condições" hoje, do que em 2010 quando nasceu o Matias. O que continuamos a ter, é a vontade de sermos uma família. Porque quando se fala em constituir família, em ter mais filhos, não são raros os nossos amigos ou conhecidos, que se saem com a história de "ter condições" ou "dar o melhor".



Mas afinal quais são as "condições"? E o que é o "melhor"? Porque parece-me que se reportam exclusivamente a dar o melhor daquilo que se pode comprar com o dinheiro. A melhor roupa, a melhor escola, as melhores actividades com que lhes entopem os dias e esgotam a carteira. As condições ideais nunca se chegam a ter. Aquilo que têm, enquanto pais, é a memória de quererem coisas quando eram crianças e não as terem, seja um balde de legos, um skate ou um computador. Agora que são pais, têm condições para oferecer esses bens a um filho, mas só a um. Assim preferem perpetuar esses cuidados materiais a um único e exclusivo filho, do que ter dois filhos e não ter capacidade para lhe dar mais coisas. Porque valorizam mais as coisas que se podem comprar do que os afectos. 
Esquecem-se que talvez não tenham brincado com jogos caros, mas brincaram ao ar livre, tinham muitos amigos na rua, brincavam em liberdade, construíram relações, aprenderam a ser e a estar na relação com os outros e não na relação com os objectos que oferecem hoje aos seus filhos. 
A crise é real, o desemprego é real, vê-se em todos os locais do nosso país e tem atingido muitas famílias, seja através do despedimento, seja através dos "cortes". Mas no meu entender, e na minha experiência nunca se viveu propriamente numa enorme prosperidade, ou num tempo de vacas gordas e aquilo que é bem visível nas pessoas que eu conheço é uma enorme culpa, quando não se consegue dar aos filhos aquilo que eles próprios não tiveram, roupa de marca, telemóveis, tablets, (tudo bens essenciais) o que os leva a "fazerem das tripas coração" para o conseguirem, leia-se endividarem-se, pedirem crédito, dando assim um óptimo exemplo a seguir aos seus filhos. Já não existe o esperar "pelos anos e pelo natal", é tudo para ontem, tem que ser já. Ninguém sabe esperar, ninguém ensina a esperar, ninguém aprende a esperar. 
Catarina Rodrigues reflecte ainda no seu artigo acerca da "ideia de bem estar estar associada ao consumo de bens (produtos e serviços) ligados a uma imagem de sucesso e de actividade constante - uma imagem de uma vida em ritmo acelerado... e sempre espelhando o prazer"
Quer isto dizer que faço ou compro determinada actividade, logo dou uma maior possibilidade de  desenvolvimento de competências ao meu filho. E quando estas actividade são pagas, obviamente, para eles têm mais valores e se só chega para um, não chega depois para dois, dependendo quase em exclusivo o desenvolvimento dessa criança da frequência dessas mesma actividades. Sim porque os pais não sabem como desenvolver determinadas competências (ou então dá trabalho e implica passar tempo com a criança), logo delega a outras pessoas que são as "especialistas". Também sobre este tipo de epidemia de actividades extra especiais também já tive a oportunidade de escrever aqui no blog, reportando-me à falta de espontaneidade que existe neste tipo de actividades e também à falta de critério que se tem não considerando muitas vezes os gostos dos filhos, mas sim os dos pais...
Não consegui o link para o artigo que menciono da Pais e Filhos para poder mostrar o texto tão bem escrito desta Psicóloga, mas termino com um excerto de outro artigo seu publicado na Jornal Público e no seu blog que sintetiza os valores que gostaríamos de passar aos nossos filhos, no essencial o melhor que se pode dar:








3 comentários:

  1. Gostei tantooo deste texto (ainda não tenho filhotes)

    Sónia
    Taras e Manias

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    Respostas
    1. Obrigada Sónia :)
      Sabe bem saber que há pessoas que partilham a mesma forma de pensar!
      Lia

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  2. Vou ser mãe pela primeira vez dentro de uns meses..
    Tanto eu como o marido somos profissionais liberais com ordenados pequenos e incertos..
    Todos os meses esticamos o orçamento e no supermercado tiramos compras no carrinho já na fila para pagar... Não jantamos fora tanto como gostaríamos e temos 4 canais na TV!
    Mas amamos o que fazemos e essa é uma herança que queremos passar ao nosso bebé...
    Às vezes perguntam se a nossa situação melhorou visto que este bebé não é um engano e nós ESCOLHEMOS engravidar.
    A resposta é simples..
    A nossa motivação para sermos pais não é dar ao nosso filho bife do lombo todos os dias, não é vesti-lo na Benetton, não é levá-lo à Kidzania e ao Macdonal’s todo o santo fim de semana.
    A nossa motivação é tão somente querermos semear afectos.

    Parabéns pela partilha e pelo Blog ....O meu está estacionado em: http://hortelaatrasdaorelha.blogspot.pt/
    :)

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